A incrível historia da Electro Harmonix

Seguir as regras pode manter-te longe de problemas, mas nada de importante alguma vez se fez seguindo as regras.

                  

Desde a sua criação há mais de meio século atrás, a Electro-Harmonix tem liderado o caminho da inovação no mundo da música. O seu fundador, Mike Matthews, não pretendia tornar-se uma influência global. Ele só queria quebrar barreiras e permitir a liberdade sonora. A Electro-Harmonix conseguiu gerar uma mudança que continua a produzir inovações até aos dias de hoje.

LIBERDADE SONORA

Era uma vez, não existiu tal coisa como o overdrive. Nos primórdios da música ao vivo amplificada, a distorção era evitada. Nessa altura, os amplificadores eram concebidos para limitar a capacidade de explorar sons "fora" dos limites convencionais. Já desde o início, a EHX tem sido sobre como dar aos músicos a liberdade de experimentar. Liberdade para experimentar algo novo e aceder a um amplo espectro de sons. Liberdade para criar sem limitações; liberdade Sonora

A HISTORIA DA EHX

  

GENESIS, 1941-1967

Não se pode contar a história da Electro-Harmonix sem também partilhar a história da vida de Mike Matthew. Estão entrelaçadas e fazem parte do mesmo enredo.

Quando criança, Mike tinha um espírito empreendedor tenaz. Nas suas próprias palavras, "Desde os meus cinco anos de idade, que estava no negócio. Eu sempre soube que queria começar o meu próprio negócio. Eu cresci no Bronx (Nova Iorque) nos anos 40. Eu costumava "pescar" bolas dos esgotos com cabides e vendê-las. Comprei todo o inventário de um tipo que fazia binóculos, durante a Segunda Guerra Mundial, incluindo todos os prismas e lentes. Depois vendi-os no liceu, criando uma grande moda com os prismas. Havia arco-íris em toda a escola. Nos acampamentos de férias, enquanto as crianças jogavam golfe, eu estava no lago à procura de bolas de golfe para vender.

"Quanto à música, quando eu era muito novo a minha mãe deu-me aulas de piano. Eu tinha cinco anos de idade. Um ano mais tarde tive um professor de música clássica. Quando eu tinha sete anos, comecei a dar concertos na escola primária. Na quarta classe eu era muito maroto, para me castigar, o professor cancelou o meu próximo concerto, por isso fiquei zangado e parei de tocar. Mas no liceu, quando o rock and roll estava a começar a evoluir, comecei a entrar no boogie-woogie ao piano e tornei-me até bastante bom nisso.

"Na faculdade, na Cornell, vi o meu primeiro concerto ao vivo, uma banda de R&B chamada Sawyer Brothers, eles tinham um som incrivelmente divertido que realmente me influenciou. Formei uma banda e toquei um órgão Hammond M3 e um piano eléctrico Wurlitzer no estilo R&B dos Sawyer Brothers. Enquanto estive na faculdade em Cornell e no Verão em Long Island, também promovi bandas de rock and roll. Eu tratei dos The Coasters, The Isley Brothers, The Drifters, The Rascals, The Byrds, The Lovin' Spoonful e outros mais.

Mike licenciou-se em Engenharia Electrotécnica em Cornell e obteve um MBA em Gestão de Empresas. Entrou para a IBM como vendedor de computadores em 1965, mas continuou a promover concertos. Um desses concertos apresentava um jovem guitarrista que iria crescer para o estrelato.

Como Mike recorda, "também me tornei bom amigo de Jimmy James, que acabou por usar o nome Jimi Hendrix. Foi assim que aconteceu. Durante o Verão de 1965 contratei o Chuck Berry no Highway Inn em Freeport, Long Island, por $1,000 por noite durante duas noites e tive de arranjar a banda de apoio. O promotor que mo vendeu ligou-me uma semana antes do concerto e pediu-me para contratar esta outra banda, Curtis Knight and the Squires. Ele disse que eles tinham um guitarrista incrível que tocava com os seus dentes. Eu não queria fazer este investimento porque as pessoas vinham ver o Chuck Berry. O agente pediu inicialmente 600 dólares por três noites e depois disse que os podia ter por 500 dólares, por isso finalmente concordei. Eu fiz o Chuck Berry ir primeiro porque não fazia ideia do som da banda do Curtis. Estava eu a contar o dinheiro para o concerto quando Steve Knapp, o guitarrista da banda que eu tinha para apoiar o Berry, veio ter comigo e disse: "Ei, tens de ver este gajo a tocar guitarra! Era o Jimmy James, ele tinha um estilo R&B muito fluido na altura e nós demo-nos bem.

Comecei a conhecer o Jimmy James durante os meus intervalos para almoço na IBM. Ele viveu num hotel miserável em Times Square, sem casa de banho. Havia apenas uma cama e nada mais. Teríamos conversas sobre música, sobre este ou aquele artista. Uma noite, Curtis Knight e os Squires estavam a tocar num clube no West Side e durante o intervalo Jimmy estava a dizer-me que queria desistir e ter a sua própria banda. Eu disse: 'Se fizeres isso, vais ter de cantar'. Ele disse: 'Eu sei. Esse é o problema... Eu não sei cantar!' E eu disse: 'Bem, se trabalhas nisso, consegues fazê-lo. Olha para o Mick Jagger, olha para o Bob Dylan, eles não cantam realmente, apenas dizem coisas e são óptimos". Ele disse: 'Sim, tens razão'. E acho que o meu encorajamento o ajudou a começar a cantar. Ele tinha esse mesmo estilo de cantar falando directo da alma. Mais tarde, quando ele se tornou grande como Jimi Hendrix e voltou para Nova Iorque para gravar, ele convidava-me sempre para as suas sessões de gravação para me divertir e ter uma ideia do processo.

"Quando ainda estava na IBM, tive a vontade de desistir e sair para tocar com uma banda a tempo inteiro. Na altura, "Satisfation", com o riff de Keith Richards, era o número 1 mais longo de todos os tempos e o Maestro não conseguia fazer os seus pedais de FUZZ com a rapidez suficiente. 
Todas as lojas de música em Nova Iorque estavam na West 48th Street e havia lá um reparador chamado Bill Berko que fazia os Pedais de Fuzz um de cada vez. Ele disse: 'Ei Mike, porque é que não vens ajudar-me? Podia-mos faze-los muito mais rápidos. Na altura eu era casado e a minha mulher era um pouco conservadora. Por isso Eu queria fazer algum dinheiro extra para poder dizer: 'Aqui tens vinte e cinco mil dólares, e assim eu já posso sair para tocar e deixar-te com alguma segurança finançeira'. Eu respondi-lhe: 'Está bem'. 
Pensei em fazer o suficiente para poder deixar a IBM e ir para a estrada. Mas acontece que ele não fez nenhum trabalho, e eu próprio acabei por o fazer com um tarefeiro em Long Island City. Al Dronge, o fundador da Guild Guitars, queria comprar-nos todos, por isso a cada duas semanas trazia algumas centenas de pedais para a Guild em Hoboken, New Jersey. Al Dronge queria chamar-lhes Pedais Foxey Lady porque o Jimi era enorme na altura, e todos queriam soar como ele.

 

 

A CRIAÇÂO DE UM ÌCONE, 1968 - 1981

Mike Matthews, de 26 anos, fundou a Electro-Harmonix em 1968 com apenas $1,000. Foi aí que nasceu o primeiro produto da EHX, o LPB-1 Linear Power Booster. Um dispositivo que ajudou a dar início à Era Overdrive, um fenómeno que influenciou profundamente o som da música moderna. Mike descreve-o desta forma: "O primeiro pedal que construí com Electro-Harmonix foi em finais de 1968 e foi o LPB-1 Linear Power Booster. Contactei Bob Meyer, um inventor premiado da Bell Labs. Contratei-o para desenhar um suporte sem distorção e quando fui ver o protótipo, vi uma pequena caixa enfiada na frente do suporte do protótipo. Perguntei-lhe: "O que é isso?" e ele respondeu: "Bem, eu não sabia que a guitarra emitia um sinal tão baixo, por isso construí um simples "booster" de um transístor para colocar na frente". Quando carreguei no interruptor, de repente, o amplificador ficou super intenso e eu disse: "Uau, isso é um produto!". Naqueles tempos, os amplificadores eram desenhados com muito conservadorismo. Não existia tal coisa como o excesso de "intensidade/ Volume". Assim mesmo aumentando até ao 10 e eles ainda estariam limpos. Mas com este dispositivo, podias fazer o amplificador muito mais alto, e em consequência adicionavas uma distorção. Chamei-lhe o Linear Power Booster, ou LPB-1, e comecei a vendê-lo por correio e só depois nas lojas. Ainda hoje se vendem toneladas de LPB-1s.

O som e o apelo do LPB1 é tão poderoso que foi imitado e copiado por quase todas as companhias de pedais do planeta.

Apenas um ano depois, em 1969, Mike introduziu o Big Muff PiÉ o pedal pelo qual a Electro-Harmonix é provavelmente mais conhecida, uma verdadeira mudança de paradigma com uma lista de utilizadores onde estão presentes o quem é quem da música pop. Entre os músicos mais reconhecíveis estão David Gilmour dos Pink Floyd, Billy Corgan dos Smashing Pumpkins, Ernie Isley dos The Isley Brothers, J Mascis dos Dinosaur Jr. e Jack White dos White Stripes, entre outros.
Mike diz: "Saltámos para a produção em série e eu levei as primeiras unidades a Henry (Henry Goldrich, filho do fundador do Manny, Manny Goldrich), o chefe da Manny's Music na West 48th Street, em Nova Iorque. Uma semana depois, passei pelo Manny's para comprar uns cabos e o Henry gritou: "Mike, vendi uma daquelas novas Big Muffs ao Jimi Hendrix! Pouco depois, numa das sessões de gravação do Jimi, vi um Big Muff no chão, ligado ao seu amplificador.

Em 1968, o primeiro ano de vendas do EHX foi de $50,000. Dez anos mais tarde, chegaram aos 5 milhões de dólares e a empresa empregava mais de 250 pessoas de uma grande variedade de origens. A maioria começou como trabalhadores não qualificados e o Mike deu-lhes oportunidades ilimitadas de progressão. O vice-presidente de vendas da EHX era um afro-americano chamado Willie Magee, que tinha tocado guitarra no Circuito de Chitlin'. Manny Zapata, o director de marketing externo, era um imigrante da Colômbia. Ambos tinham começado na empresa como trabalhadores não qualificados e trabalharam até chegar ao topo. A filosofia do Mike era que os trabalhadores podiam ser promovidos com base no mérito e não na antiguidade. Em 1978 a Electro-Harmonix estava a voar alto e Mike Matthews foi nomeado o Pequeno Empresário do Ano do Estado de Nova Iorque.

Foi durante este período, no final dos anos 70, que Mike fez duas coisas que mostram quão pouco convencional e visionária era a sua abordagem aos negócios. A primeira foi abrir o Electro-Harmonix Hall of Science na 150 West 48th Street, em Nova Iorque. Na altura, a West 48th Street era a Music Row, o epicentro absoluto do equipamento musical. O bloco estava alinhado com lojas de música que forravam os dois lados da rua. Todos os músicos que passaram por Nova Iorque faziam a peregrinação à West 48th Street, e não seria invulgar ver alguém do Stevie Wonder ao Buddy Rich a fazer a ronda. Foi no meio de tudo isto que Mike abriu o EH Hall of Science, um centro de exposição de produtos e marcas que apresentava um palco onde os especialistas em produtos Electro-Harmonix faziam demonstrações, quiosques de auto-demonstração onde os músicos podiam experimentar os produtos, e um ambiente fresco, aberto e acolhedor onde músicos, aspirantes a músicos e turistas podiam experimentar tudo da Electro-Harmonix. Um dos aspectos mais marcantes do Salão da Ciência era a sua deslumbrante exibição de arte electrónica inovadora. Embora a venda directa não fizesse parte do pacote, era fácil para os interessados saírem e a dois passos entrarem na loja de música preferida da rua e comprar o que tinham acabado de experimentar.

O segundo foi levar a Electro-Harmonix Work Band, um grupo de cinco outros músicos e ele próprio, a actuar na Rússia durante dez dias. Em 1979, a Câmara de Comércio e Indústria da URSS abriu, pela primeira vez, a sua exposição de bens de consumo em Moscovo aos participantes internacionais. O evento teve lugar no Parque Sokolniki de Moscovo e a Electro-Harmonix foi um dos dois únicos expositores dos EUA, sendo o outro Levi Strauss. Várias dezenas de expositores do Japão e da Alemanha partilharam o mesmo pavilhão. A Work Band, totalmente equipada com os últimos pedais EHX, tocou para um público completamente "colado" que não se conseguia fartar do seu rock and roll. A Banda actuava três vezes por dia e cada vez que tocavam podiam ser ouvidos em todo o Parque Sokolniki. As pessoas ouviram-nos e deixavam as outras exposições e pavilhões em massa para assistir ao espectáculo. Foi uma celebração da cultura e música americana com a Electro-Harmonix a liderar o caminho, e as sementes deitadas nessa viagem dariam frutos incríveis para Mike e Electro-Harmonix durante anos futuros. 

Hoje, a Electro-Harmonix tem uma linha de produtos com mais de 150 pedais que vão desde o essencial ao exótico. A Electro-Harmonix oferece aos músicos produtos imaginativos que alimentam a chama da criatividade a preços acessíveis para o músico.

Actualmente, a Electro-Harmonix conta com uma linha de productos de mais de 150 pedais que vão desde o essêncial até ao exótico. Electro-Harmonix oferece aos músicos productos imaginativos que avivam a chama da creatividade a preços acessíveis para os músicos.

A MORTE DE UM SONHO, DÉCADA DE 1980

O sucesso nem sempre é fácil, e em 1981 a Electro-Harmonix atraiu a atenção do Sindicato das Plásticos, Moldes e Novidades, 
E seguiram-se varias disputas, manifestações, agressões, bloqueios, em suma, tudo gerou bastante má imprensa. 

As peças e mercadorias foram muitas vezes impedidas de entrar e sair assim como os trabalhadores. Foi um periodo muito complicado que atrasou muito o fabrico e entrega de produtos. Consequentemente Toda esta situação foi amplamente noticiada por uma impressa voraz por escândalos e agitação, ao ponto de afastar investidores, clientes e por final os bancos que deixaram de dar suporte á marca. Foi um rude golpe.

A electricidade foi cortada e o Mike trouxe um gerador a gás para fornecer ainda assim alguma energia eléctrica limitada. Ele e a sua equipa de trabalho mantiveram o seu espírito elevado face a estas dificuldades, mas ele recorda: "Lutámos pelos nossos direitos, mas não conseguimos ultrapassar os reveses financeiros e depois fomos obrigados a liquidar a empresa". Mike teve de fechar a fábrica e declarar falência.

Finalmente, a Junta Nacional de Relações Laborais ordenou ao sindicato que "cessasse e desistisse" de todas as suas acções e movimentos, mas era já tarde demais.

1982

   

 

ERGE-SE DAS CINZAS, ANOS NOVENTA

A viagem de Mike á Russia com a sua Work Band plantou as sementes que lhe permitiram reconstruir a Electro-Harmonix de volta a um negócio próspero. Ele descobriu que os russos não podiam comprar-lhe produtos - mas não tinham moeda estrangeira - mas estavam muito interessados em dólares americanos. Com o seu apurado instinto Para o negócio, ele pensou no que poderia comprar à Rússia. Mike: "Tive a ideia de comprar circuitos integrados baratos da Rússia a que chamávamos JellyBean ICs. Na Electro-Harmonix eu tinha visto estes ciclos de três em três anos, aproximadamente, onde, se voltava aos mesmos mas eles iam subindo de preço, acabando por custar muito caro ou até não sendo possível de os obter. Por isso pensei que se a qualidade russa fosse boa, quando estes ciclos saíssem, eu poderia preencher uma lacuna e fazer uma boa maquia. Então eu comecei a desenvolver esse negócio.

"Nessa altura tudo era controlado centralmente e um dia, em 1988, quando fui ao Ministério da Electrónica na Russia, vi tubos de vácuo (vulgo, Válvulas) pendurados na parede e pensei: Válvulas!? Elas eram usadas em amplificadores de guitarra'. Pensei: "Deixa-me arranjar algumas amostras disto", e eles enviaram-mas em caixas de madeira. Levei-as a Long Island ao meu amigo Jesse Oliver, que tinha desenhado a maior parte dos primeiros amplificadores Ampeg, e pedi-lhe que os testasse. Ele disse-me: "Mike, estas Válvulas são boas", por isso substituí os circuitos integrados pelas Válvulas. Eu trabalhava sozinho, no meu apartamento, e os caixas cheias de Válvulas empilhavam-se até ao tecto. Fiz tudo sozinho. Mas como as pessoas da indústria me conheciam, começei a ligar para lojas de todo o país e as encomendas começaram a entrar. Cresceu ao ponto de eu ser o primeiro americano convidado para a cidade onde estava localizada a maior fábrica de Válvulas do mundo, que fazia parte de uma fábrica militar, e agora, somos donos de 100% da fábrica!" Mike comprou a fábrica, localizada no complexo industrial Reflektor de Saratov, em 1998 e transformou-a no maior fornecedor de Válvulas do mundo, com uma lista de clientes que inclui os fabricantes de amplificadores de guitarra Marshall, Fender, Vox e Peavey, assim como fabricantes de equipamento de áudio como a McIntosh e a Audio Research.

Mais tarde, Mike notou que havia um mercado em expansão para equipamento musical vintage. 
"No início dos anos 90 reparei que todos os pedais Electro-Harmonix que estava a fazer nos anos 70 e que estavam a vender-se usados a um preço muito alto. Na década de 70 não havia um "mercado vintage". Então comecei a fazer pedais Electro-Harmonix novamente. Dei o diagrama do circuito da Big Muff e uma amostra a uma pequena fábrica militar em São Petersburgo que estava desesperada por trabalho. Eles desenharam a placa de circuito impresso, desenharam uma nova caixa e fizeram-na para mim. Mais tarde, expandi e adicionei as Bass Balls e o phaser Small Stone. Depois comecei a produzir novamente todos os populares pedais Electro-Harmonix e a fabricá-los em Nova Iorque. Finalmente, reuni uma equipa de desenvolvimento para desenhar pedais inteiramente novos.

E a história continua...